Será que veremos o momento em que bastará abastecer o computador com as informações sobre o processo em que você pretende trabalhar e ir curtir a praia? E, no retorno, todo o processo estará concluído? Talvez, em 50 anos. Quem sabe Isaac Asimov, o escritor russo-norte americano, pudesse ter respondido isso. Mas, uma coisa é certa: o avanço tecnológico é tão intenso e rápido que todas as áreas jurídicas são fortemente pressionadas por mudanças.
Talvez Asimov pudesse mesmo prever, hoje, uma coisa dessas. Em 1964 – há mais de 50 anos, portanto -, previu coisas tão absurdas como micro-ondas, internet, fibra ótica, TVs com tela plana e micro chips. De quebra, antecipou que a depressão seria um dos grandes males no final do século XX.
“Lei não é para dar emprego”
Ele fez essas previsões, em invenções nas quais nem se pensava naquela época, em artigos para o The New York Times, o que ajudou a transformá-lo num dos maiores gênios da ficção científica do mundo. Mas, e as realidades atuais do avanço das ciências devem tirar o sono dos jovens ou experientes advogados de hoje? Existem, realmente, previsões terríveis sobre a profissão, como no livro O Fim dos Advogados? (The End of Lawyers?), do inglês Richard Susskind.
É possível advogar na área de criptomoedas e blockchain?
E ainda ressoa doída nos ouvidos de muita gente sua célebre frase “a lei não existe para dar emprego a advogados, nem a doença para os médicos”. Principalmente depois que estatísticas passaram a revelar que milhares de empregos na área do Direito já foram substituídos por computadores ‘inteligentes’.
Computador que fala, quase negocia
Isso já aconteceu pelo menos nos Estados Unidos, revela pesquisa da consultoria Deloitte. Lá, software avançados ocuparam nos últimos anos cerca de 31 mil postos de trabalho nas áreas do Direito e, segundo previsão, em 20 anos devem arrematar cerca de 40% dos trabalhos do setor. Previsão catastrófica? Talvez nem tanto.
Com o novo Código de Processo Civil brasileiro, aprovado em 2015, câmaras de mediação, privadas, passaram a realizar trabalho judicial. E, nestas, o computador ganha espaços que seriam de profissionais humanos do Direito, talvez advogados, em diversas áreas jurídicas. É o caso da startup Sem Processo, que intermedia e apressa disputas judiciais através de chatbots – programa que simula conversa humana -, isso em Brasília.
O Ross também avança rapidamente
E, com a presença de um único advogado, os interesses em disputa são avaliados e logo sai o acordo, sem a presença de juiz. E, em todo o País, já são sete legal tech que fazem esse tipo de serviço, ajudando a tirar aproximadamente 270 mil processos por ano da Justiça. E os exemplos dessa intromissão da máquina no trabalho do homem não param por aí – o que é mesmo de provocar preocupações.
É o exemplo do que está acontecendo no Canadá, com o advogado virtual Ross, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Toronto. Ele consulta milhões de arquivos e, em segundos, identifica documentos que podem ser importantes para o caso ao qual foi consultado. Um trabalho que demoraria algumas horas para o estagiário que fosse executá-lo.
O Watson faz o trabalho de dezenas
Existem, mesmo, exemplos preocupantes, como o da engenharia civil, uma das áreas do conhecimento fortemente impactada pelas novas tecnologias. Como também ocorre com a agronomia nos campos. Com drones adaptados, os engenheiros conseguem vistoriar obras ou lavouras em minutos, coisa que exigiria horas pelos métodos antigos. E com medições milimétricas, sem erro. Isso, depois, em áreas jurídicas, também vai auxiliar na elaboração de processos judiciais.
Também não dá para esquecer que o robô Watson, da IBM, já está chegando ao Brasil. Grandes escritórios, nos maiores centros do País, já começam a receber esse advogado virtual, capaz de analisar milhões de documentos e dar as respostas exigidas em segundos. Dará mais agilidade à elaboração de processos, vai melhorar a produtividade nessas grandes bancas e, de quebra, muitos estagiários e jovens advogados perderão o emprego ou deixarão de ser contratados.
Advogado virtual para o trânsito
Ninguém pode classificar isso de ficção científica, como num livro da Asimov. É a mais pura realidade do que já está acontecendo entre nós, com decisiva influência em várias áreas jurídicas – para o bem e para o mal da profissão. Que esses softwares vão tirar muitos postos de trabalho, não tenha a menor dúvida. Para provar isso, veja o que as low tech e legal tech também já estão fazendo em todo Brasil.
No Exterior, mais precisamente em Londres, Inglaterra, um estudante de 19 criou o aplicativo DoNoPay, depois de receber sua 30ª multa de trânsito totalmente injustas. Este advogado virtual fez sua defesa, ganhou todas as causas e ainda levou elogios do mundo inteiro, incluindo grandes jornais dos Estados Unidos.
Novas tecnologias afetam todos os setores
O que é possível afirmar, com certeza, é que todas as áreas jurídicas tendem a ser afetadas pelas novas tecnologias, numa velocidade que hoje é impossível prever. Para o bem e para o mal da profissão, repita-se.
Entretanto, é possível identificar hoje, também, muitas áreas jurídicas em que estas novas tecnologias entram beneficiando o profissional. A gestão do negócio jurídico é uma delas, em diferentes sentidos – desde a agilização de processos até o controle financeiro da empresa.
Áreas jurídicas hoje beneficiadas
Vejamos quais são essas áreas jurídicas que podem ser impulsionadas pela tecnologia:
- Em primeiro lugar, a gestão administrativa do escritório;
- Elaboração de peças jurídicas, com o fim das tarefas repetitivas, o que resulta em maior produtividade;
- Consulta eletrônica a processos, dispensando a ida a Fóruns e Tribunais;
- Encaminhamento eletrônico de processos;
- Armazenamento, controle e consulta a documentos;
- Melhorou a padronização de processos, o que facilita o trabalho de profissionais do Direito em todas as áreas jurídicas;
- O compartilhamento de documentos de forma instantânea, o que facilita o trabalho dos advogados, principalmente em equipe;
- Melhorias sensíveis na comunicação entre profissionais e destes com seus clientes;
- Conferência e encontros online, o que dá mais agilidade ao trabalho jurídico;
- Conferência online para juízes com réus e testemunhas, o que também dá mais agilidade aos procedimentos em todas as áreas jurídicas.
É preciso acompanhar a evolução
O avanço tecnológico, portanto, pode mesmo assustar advogados, apontando para horizontes sombrios à profissão num futuro ainda incerto, mas também pode ajudar – e muito – nos tempos atuais. E isso em todas as áreas jurídicas, da elaboração de processos ao controle financeiro das empresas. Mas não devem chegar ao ponto de assustar, seja o Ross, o Watson, o DoNoPay ou as legal tech.
São ferramentas úteis para a agilização do trabalho, inclusive na área do marketing, e são indispensáveis hoje para o crescimento do negócio jurídico. Mas, é certo que, em todas as áreas jurídicas, essas novas tecnologias vão, aos poucos, roubar muito posto de trabalho, especialmente de estagiários e jovens advogados. Por ora, trabalhar com inteligência e prospectar essas novas tecnologias parece ser, para os advogados, a salvação.
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